Nova fronteira para cogeração de energia elétrica a partir da madeira
Novas usinas de etanol de milho no MT abrem oportunidade para aproveitamento de biomassa também de resíduos florestais e até capim
Uma nova fronteira da produção nacional de etanol a partir do milho tem grande potencial de expandir a cogeração de energia a cavaco de eucalipto, resíduos florestais e de serraria e ainda de outras biomassas promissoras, como o bambu e o capim brachiaria. Isso por conta da natureza das usinas de etanol de milho, que aproveitam todos os resíduos (farelo) e a vinhaça da destilação para coproduzir a proteína de milho (DDG), de alto valor agregado, como ração animal. O aproveitamento deixa as usinas sem biomassa residual para cogerar eletricidade e vapor necessários para a produção, ao contrário das sucroenergéticas, que baseiam a cogeração no bagaço da cana.
A oportunidade está se materializando por conta dos grandes investimentos em curso no Mato Grosso, estado que lidera a nova tendência por ser o maior produtor de milho do país, com 30 milhões de t/ano das cerca de 90 milhões de toneladas nacionais, sendo responsável por 5 das 10 usinas de etanol de milho já em operação.
É no Mato Grosso onde há também, desde 2017, a primeira unidade full do Brasil, ou seja, que só produz etanol com o milho, ao contrário das demais, batizadas de flex, por também utilizarem a rota tradicional com cana-de-açúcar. Com projeção da União Nacional do Etanol de Milho (Unem) de que 12 usinas deste tipo estarão operando no país até 2028, haverá a crescente necessidade de cogeração nova a partir de biomassa de madeira plantada ou residual, para garantia de eletricidade e vapor para as operações.
O cenário deve replicar o modelo de cogeração similar ao da usina, da FS Bioenergia, localizada em Lucas do Rio Verde. A planta, duplicada no começo do ano para produzir 530 milhões de litros/ano de etanol, utiliza biomassa de cavacos de eucalipto plantados por parceiros próximos à unidade, além de resíduos agrícolas e florestais. Com duas turbinas de contrapressão, cada uma com potência de 18 MW, em 2018, a planta gerou cerca de 156 mil MWh, consumiu 122 mil MWh e vendeu a energia excedente no mercado livre. Após a duplicação, a expectativa é que, em 2019, o consumo seja mantido e o excedente a ser exportado ultrapasse os 150 mil MWh, segundo revelou o CEO da FS Bioenergia, Rafael Abud.
Com mais investimentos em curso e planejados, a FS Bioenergia, joint-venture entre o grupo brasileiro Tapajós e o norte-americano Summit Agricultural Group, está fomentando a plantação de uma floresta de eucalipto de 45 mil hectares nas regiões de seus projetos. O plano visa garantir energia para o ano todo, tendo em vista que suas usinas de etanol também rodam sem intervalo, dada a facilidade de estocagem de milho nos períodos de entressafra. A FS adquire milho de fazendas vizinhas.
Já no segundo semestre, entra em operação a segunda usina de etanol de milho da FS Bioenergia em Sorriso (MT), com capacidade inicial de 265 milhões de litros/ano, depois duplicada para os mesmos 530 milhões de litros da primeira usina. Mas a cogeração aí será um pouco maior, com capacidade de até 45 MW, com uma turbina de contrapressão e uma de condensação. Para garantir o suprimento de cavaco de eucalipto, a FS deve usar de mesmo expediente que fez na primeira unidade: convênio com o Sicredi para financiar produtores de eucalipto da região do meio-oeste mato-grossense. Apenas para essas duas usinas, a estimativa é de necessidade de 30 mil hectares de florestas.
E os investimentos da FS Bioenergia não param por aí. Na semana passada, o grupo anunciou a construção de mais três usinas. A primeira terá o início de obras em maio, em Nova Mutum (MT), com investimento de R$ 1 bilhão e produção de 530 milhões de litros/ano (mais 340 mil t de farelo de milho, 17 mil t de óleo de milho) e 130 mil MWh/ano da planta de cogeração. Mais outras duas, com perfis iguais, em Campo Novo do Parecis e Primavera do Leste (MT), serão construídas a partir do primeiro semestre de 2020, depois que as operações da unidade de Sorriso estiverem consolidadas, afirmou Abud.
A meta da FS Bioenergia é chegar a uma capacidade produtiva total, com as cinco usinas, de 2,6 bilhões de litros/ano, tornando-se uma das três maiores do mercado de etanol do Brasil. A cogeração das demais plantas seguirá o modelo da usina de Sorriso, com potência instalada de até 45 MW, e turbinas híbridas, com geração anual próxima de 130 mil MWh/ano.
Mais investimentos
A se guiar pelas projeções de crescimento da participação do etanol de milho na matriz brasileira, as oportunidades de expansão de cogeração de biomassa não se limitam aos investimentos da FS Bioenergia. Segundo o presidente-executivo da Unem, Ricardo Tomczyk, entre 2020 e 2021, o segmento já representará 10% do etanol produzido no país e, até 2028, a projeção é que chegue a 20%, algo em torno de 8 bilhões de litros anuais.
O Mato Grosso vai continuar liderando a tendência, por conta da alta produção do cereal e pela dianteira tomada desde que a primeira usina flex foi inaugurada, em 2012, no município de Campos de Júlio. A partir dali, seguindo a primeira experiência, foram adaptadas para o modelo flex, para aproveitar a abundância e o baixo preço do milho no estado, outras usinas antes apenas na cana-de-açúcar – a Libra, em São José do Rio Claro (MT), e a Usina Porto Seguro, de Jaciara (MT) – e foi erguida uma pequena usina apenas de etanol de milho em Sorriso, a Safras Biocombustíveis. Na segunda colocação dos mercados, destaca-se Goiás, também produtor de milho, com três usinas flex, seguida por uma pequena usina em São Paulo (com uso não para combustível) e outra no Paraná.
Apesar de hoje a maior parte das usinas serem flex, a tendência, segundo Tomczyk, é de mais projetos integrais, apenas com milho, e agregando os coprodutos do milho e a cogeração. A imensa maioria dos projetos se dará no Mato Grosso, mas também em Goiás, outro produtor importante de grãos que também atrai o interesse dos investidores.
Pesa muito a favor dessa tendência o fato de que, a partir de 2016, a gasolina deixou de ter o preço artificialmente controlado pelo governo, o que trouxe segurança para grandes investidores como a FS Bioenergia. Não à toa, já há pelo menos um outro grande grupo com planejamento e obras em execução nessa área, caso da paraguaia Inpasa. A empresa está instalando uma usina full em Sinop (MT), com capacidade para 525 milhões de litros/ano de etanol e previsão de entrar em operação em julho. O mesmo grupo paraguaio também se associou, em março, com a brasileira O+ Participações para erguer outra usina de etanol de milho em Nova Mutum (MT). A meta é atingir a produção de 800 milhões de litros/ano, tendo como diferencial usar na cogeração de energia a biomassa de capim brachiaria plantado em áreas de lavoura e de pasto degradado da própria empresa. O previsto é a usina entrar em operação no segundo semestre de 2020.
Segundo o presidente da Unem, as usinas sucroenergéticas no Mato Grosso e também em Goiás, nos projetos de investimento flex, tendem a deslocar a produção do etanol apenas a partir de milho e focar a cana para produção de açúcar, aproveitando o bagaço para a cogeração. Há no momento implantação de usinas flex nesses modelos em Campo Novo do Parecis (MT) e em Chapadão do Céu (GO).
Com alta viabilidade, por agregar valor ao etanol com a ração animal (DDG), cuja demanda atual é maior do que a oferta, além do óleo de milho e da energia excedente, a previsão é de, até 2028, o mercado ser formado por 12 usinas full e 8 flex, segundo Tomczyk.
Em 2018, segundo a Unem, foram produzidos 840 milhões de litros de etanol de milho no Brasil, sendo 660 milhões de litros no Mato Grosso. A previsão para 2019 é a produção pular para 1,45 bilhão de litros, com 1,1 bilhão provenientes das usinas do estado mato-grossense. Em 2020, o volume sobe para 2,6 bilhões, com 2,2 bilhões do MT, daí em um crescente até chegar aos 8 bilhões de litros projetados para 2028.
Para atender essa produção, embora sem poder calcular os hectares necessários, continua Tomczyk, o horizonte sinaliza para muitas florestas de eucalipto, além de operações logísticas para aproveitar cavacos de serraria e desenvolvimentos para suprir de combustível renovável as caldeiras das unidades de cogeração de energia.
Fonte: http://brainmarket.com.br/noticia/nova-fronteira-para-cogeracao-de-madeira
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